Latinidades Camponesas

Latinidades Camponesas

“Este festival não me representa”, diz a camponesa Linda Santana do assentamento Pequeno Willian, parcela Panteras Negras, do MST-DF.

As críticas são as já conhecidas para quem se dispõe prioritariamente a uma experiência práxica do que a reflexões pertencentes ao campo teórico como foi majoritariamente o vivido na oitava edição do Festival Latinidades, ocorrida quase que totalmente sua programação no Cine Brasília, parte do plano piloto da cidade.

Para quem desconhece Brasília – como eu desconhecia -, a cidade é projetada para que os encontros não aconteçam, para que cada qual se reduza ao seu quadrado (no caso quadrado mesmo, uma vez que a divisão das localidades é feita por quadras bem medidas). Não se observam pessoas nas ruas e em cinco dias pude contar nos dedos de duas mãos a quantidade de ônibus vista.

Estamos falando em acesso? Em como chega a informação, convite e divulgação de um evento cultural de grande porte? Estamos falando em escolhas de locais para as atividades? Sim, estamos falando de tudo isso, o que não é diferente nas atuações em outros campos: acesso, informação, diálogo, escolhas.

Assim sendo, para quem estamos realizando estes festivais? Com quem seguimos dialogando? Se a resposta é consciente de que seguimos fortalecendo mulheres e homens que já estão ligados no rolê, que já tem um pulo consciente do que está sendo dialogado ali, objetivo cumprido.

Agora se queremos dialogar com a galera das regiões mais afastadas do grande polo, com mulheres trabalhadoras moradoras periféricas – já que o festival é uma homenagem à mulher afro-latino-americana e caribenha – cabe uma reflexão sobre o que tem sido alcançado. E, sim, estamos mesmo batendo na tecla sobre acesso.

Nisso, ouvir de uma camponesa a não representatividade do festival em relação à ela fez pensar em quem seguimos alcançando e como e para onde direcionamos nossas ações que são forças, que são trabalhos, que são lutas, que – neste caso – também é dinheiro público.

Mas para Linda Santana, a camponesa, feminista, lutadora, mãe do Kwaraji, mestranda em Educação do Campo, etc, o fato não foi toada de lamento mas sim canto de transformação em prática.

Desse modo, foi realizado na segunda-feira, 27/07/2015, no assentamento Pequeno Willian, parcela Panteras Negras, o Sarau Latinidades Camponesas, com participação de assentada/os da parcela e alguns jovens de outras parcelas que vieram procurando a “noite cultural”, como chegou perguntando Guilherme, jovem de 17 anos morador de parcela vizinha.

Entre músicas, violão, batuques, poemas, risadas, causos e gritos de “Pátria Livre / Venceremos”, vivenciava-se uma experiência no sentido benjaminiano de fato e a reflexão de “para onde direcionamos nossas energias”.

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