Gestão compartilhada de espaço cultural envolve mais de 60 coletivos locais

Gestão compartilhada de espaço cultural envolve mais de 60 coletivos locais

Em 2016, o Periferia Invisível, juntamente aos coletivos integrantes do Movimento Cultural Ermelino Matarazzo, embarcou numa missão inédita no bairro de Ermelino e na cidade como um todo: fazer a gestão compartilhada de um espaço cultural público, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. Foram 8 meses de trabalho intenso, com resultados extremamente positivos, que estão disponibilizados no Dossiê de Atividades – Ocupação Cultural Mateus Santos. Trata-se do único centro cultural do bairro de Ermelino Matarazzo, que conta com mais de 200 mil habitantes.

Infelizmente, o projeto de parceria com a prefeitura, que tinha tudo para dar certo, foi descontinuado e o espaço em questão foi perseguido pelo poder público municipal, que interditou o prédio e fez o desligamento da energia elétrica e do fornecimento de água.

Essa poderia ser a história de mais um projeto inovador interrompido por troca de gestão da prefeitura de São Paulo, como é típico nas políticas públicas brasileiras, sobretudo em nível municipal, que se caracteriza por um certo histórico de experimentalismo e inovação, sem continuidade/sistematização dos resultados.

Mas, mais do que uma gestão compartilhada entre poder público e uma única organização da sociedade civil, o compartilhamento se deu também com os coletivos e moradores do bairro. Esse fato simples potencializou o espaço, que tomou proporções muito maiores do que as esperadas para um equipamento cultural desse porte.

Desde 2017, a Ocupação Cultural Mateus Santos é gerida de forma independente pelos coletivos e produtores culturais do bairro, atendendo mais de 2000 pessoas por mês. As atividades são financiadas por meio de parcerias com diversos coletivos e organizações, bem como pelos próprios usuários do espaço, por meio de plataforma de financiamento coletivo.

Não se propõe que essa seja uma forma ideal de financiamento do espaço, mas é certo que não se pode ignorar o seu potencial. A gestão comunitária, feita por agentes que conhecem as lógicas e dinâmicas do território, tendem a aumentar o impacto e os resultados do equipamento a custos bem menores se comparado aos equipamentos culturais geridos de forma direta pela prefeitura ou pelo modelo de OS.

O pesquisador Aluízio Marino elaborou uma representação gráfica dos atores envolvidos na gestão da Ocupação Cultural Mateus Santos. O resultado demonstra a necessidade de se democratizar a gestão dos espaços culturais da cidade e pensar novos arranjos organizacionais, que permitam a inclusão desses atores e o uso de suas inteligências e conhecimentos tácitos na otimização dos recursos públicos da cultura. Sem isso, os poucos recursos destinados a área correm o risco de permanecer subutilizados.

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